Sem 'passado' e documento, idoso internado em hospital de Sorocaba descobre família e 25 netos no Paraná: 'Milagre'
06/07/2025
(Foto: Reprodução) Serviço Social do Hospital Santa Lucinda, em Sorocaba (SP), foi fundamental para o reencontro de João Luiz Ferreira Belo, de 65 anos, com os familiares da cidade de Guarapuava (PR). Idoso em hospital de Sorocaba (SP) durante reencontro com neta, após 35 anos longe da família
Josiani Freire de Barros/Divulgação
João Luiz Ferreira Belo, de 65 anos, vivia em situação de rua em Sorocaba (SP), com passagem, inclusive, pelo Serviço de Obra Social (SOS). Depois de décadas sozinho, achava até que já não tinha mais família. Tudo mudou a partir de maio de 2025, quando ele foi internado em estado crítico no Hospital Santa Lucinda.
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De acordo com o hospital, o diagnóstico era grave, com um quadro de pneumonia, encefalopatia e infarto. Além das condições clínicas severas, João apresentava agitação e confusão mental e, assim como quando passou por outras unidades de saúde de Sorocaba, não sabia dizer dados básicos, como endereço e família.
O próprio hospital onde ele estava achava que se tratava de mais um caso recorrente no sistema de saúde: uma pessoa em situação de rua, que lutava contra a invisibilidade e que não tinha rede de apoio. Mas não era isso. Com toda a situação, a equipe do Hospital Santa Lucinda acionou a direção e o setor jurídico.
"Fizemos buscas exaustivas por todos os meios e conversamos até com um antigo vizinho, que relatou que João não vivia mais no bairro desde a morte da companheira, havia muitos anos", conta Rosana Pimenta, assistente social e coordenadora do Grupo de Trabalho de Humanização do hospital.
À medida em que João melhorava, ele começou a ter algumas lembranças. Primeiro, lembrou o nome de uma filha. A partir disso, buscas foram iniciadas pela equipe e houve uma triste descoberta: ela já havia morrido.
Persistência e resultado
Idoso em hospital de Sorocaba (SP) durante alta e com neta, após 35 anos longe da família
Célia Cordeiro/Divulgação
Mas a equipe do hospital não desistiu. "Apostamos em uma última tentativa nas redes sociais. Localizamos um possível sobrinho, mas ele não respondeu. Observamos que ele frequentava uma igreja em Guarapuava, no Paraná, e entramos em contato com o pastor local", explica Rosana.
Em 10 de junho, 18 dias após a internação, veio a confirmação. Ao g1, a assistente social lembrou que a prioridade após a descoberta foi reunir a família. "Fizemos uma videochamada e, imediatamente, as filhas reconheceram o pai", comenta.
As filhas de João, Sandra e Solange Belo, que não viam o pai havia mais de 35 anos, foram localizadas. "A gente achava que ele estava morto", disse Sandra, emocionada, durante a chamada telefônica com o hospital.
E a família é grande: são 25 netos e vários bisnetos. João se emocionou. "Isso é um milagre de Deus", afirmou, enquanto chorava. Dois dias depois, em 12 de junho, recebeu alta, lúcido, decidido a encerrar a vida itinerante. Quem foi buscá-lo foi a neta Kauani Belo, que percorreu mais de 500 quilômetros para reencontrar o avô.
"Foi um reencontro cheio de afeto, memórias e esperança. Que seja o recomeço de uma nova fase entre eles. Família é isso: mesmo longe, o laço nunca se desfaz", diz a assistente social.
Ela comenta ainda que o caso foi um dos mais marcantes em seus 25 anos de carreira. "A sensibilidade da equipe de enfermagem, estagiários, setor administrativo, jurídico e diretoria fez toda a diferença", afirma Rosana.
"Este caso reafirma o verdadeiro sentido do Serviço Social e da humanização no ambiente hospitalar: acolher com empatia, agir com perseverança e nunca desistir de acreditar no poder do reencontro e da dignidade humana", conclui Rosana.
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