Porto de Santos corre risco de perder cargas com taxa imposta por Trump; entenda
11/07/2025
(Foto: Reprodução) Tarifa de 50% sobre produtos brasileiros tem potencial para impactar o principal complexo portuário do País; atualmente, Estados Unidos são o 2º maior importador via cais santista. Porto de Santos corre risco de perder cargas com taxa imposta pelos EUA
Sílvio Luiz/A Tribuna Jornal
A taxação de 50% anunciada pelos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros deve impactar negativamente as exportações a partir de 1º de agosto, data prevista para a medida entrar em vigor. Desde já, essa possibilidade de recuo no envio de mercadorias ao mercado americano acende o sinal de alerta no Porto de Santos, que é o fiel da balança comercial nacional – escoa 30% do comércio internacional – e corre risco de perder cargas se não houver solução para o impasse.
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Em 2024, os EUA importaram mais de 8,1 milhões de toneladas via Porto de Santos, atingindo R$ 12,8 bilhões. Isso equivale a 12,6% do total exportado pelo complexo portuário, colocando os americanos atrás apenas da China, que importou 42,4 milhões de toneladas (R$ 26 bilhões e 25,5%). Os dados foram informados pela Autoridade Portuária de Santos (APS).
Segundo a APS, os cinco principais produtos exportados aos EUA no ano passado foram café em grãos, óleos brutos de petróleo, suco de laranja, máquinas e implementos e carnes bovinas.
“Não há dúvidas de que a tarifa impactará o Brasil e forçará uma reorganização das relações com outros parceiros comerciais. Neste sentido, a Autoridade Portuária de Santos está preparada para atender a eventuais mudanças no perfil das movimentações”, informou a APS, em nota à Reportagem.
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Vanessa Rodrigues/A Tribuna Jornal
Balança
A gestora do principal porto brasileiro mencionou ainda que, incluindo os seis primeiros meses de 2025, tem prevalecido um superávit a favor dos americanos. “Se considerarmos os últimos 16 anos, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), a vantagem comercial chega a US$ 90 bilhões a favor dos EUA. Assim, esperamos que eles não concretizem a ameaça (de tarifação de 50%), inclusive porque sairão perdendo”.
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Perdas
Segundo o advogado Emanuel Pessoa, doutor em Direito Econômico e professor da China Foreign Affairs University, cerca de 35% das exportações brasileiras destinadas aos EUA — estimadas em US$ 38 bilhões (2024) — passaram pelo Porto de Santos.
“Isso representa aproximadamente US$ 13,3 bilhões em mercadorias. Com a possível alta tarifária, projeta-se uma queda de até 25% nesse volume, o que resultaria em uma redução de cerca de US$ 3,3 bilhões no fluxo de exportações via Santos até dezembro”, analisou.
“Essa desaceleração prejudicará a arrecadação do Porto. Considerando uma receita média de 0,8% sobre o valor das cargas exportadas, o impacto direto na receita portuária pode ultrapassar US$ 26 milhões — o equivalente a aproximadamente R$ 145 milhões, na cotação atual”, complementou.
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Possibilidade de recuo no envio de mercadorias ao mercado americano acende o sinal de alerta no Porto de Santos
Vanessa Rodrigues/A Tribuna Jornal
Transporte terrestre
Também poderá haver recuo no transporte terrestre. “Com menos cargas partindo de estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Paraná e Minas Gerais, o volume de fretes com destino a Santos pode cair entre 10% e 18%. Isso afetará transportadoras, cooperativas agrícolas e caminhoneiros autônomos, especialmente nos corredores logísticos Santos-Campinas-Rondonópolis, que concentram grande parte da movimentação de produtos agroindustriais e frigorificados para exportação”, disse Pessoa.
O especialista afirmou também que em um cenário moderado, estima-se que até 800 empregos diretos possam ser afetados apenas no Porto de Santos, além de cerca de 2 mil postos de trabalho indiretos nas áreas de logística, segurança e serviços gerais.
Mercado teme impactos
Os portos brasileiros movimentam 95% de tudo que é produzido no País. Dessa forma, a imposição de uma taxa de importação de 50% sobre os produtos nacionais pelos Estados Unidos impactará não só a cadeia de comércio exterior, mas as operações portuárias e a economia doméstica.
“Qualquer alteração em alíquotas de importações gera reflexos nas atividades de comércio exterior e com consequências nas atividades portuárias. Ainda não há dados suficientes para avaliar os impactos econômicos e sociais”, afirmou o presidente da Federação Nacional das Operações Portuárias (Fenop), Sérgio Aquino.
Porto de Santos corre risco de perder cargas com taxa anunciada pelos EUA
Vanessa Rodrigues/A Tribuna Jornal
Para o presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, a medida é uma ameaça à economia do País. “É certamente uma das maiores taxações a que um país já foi submetido na história do comércio internacional, só aplicada aos piores inimigos, o que nunca foi o caso do Brasil”.
Castro receia que o anúncio dos EUA possa criar uma imagem negativa do Brasil, gerando medo em importadores de outros países ao fechar negócios. “Quem vai querer se indispor com o presidente Trump? Todavia, acreditamos que o bom senso prevalecerá e a taxação será revertida”.
O diretor de Comércio Exterior da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços do Brasil (Cisbra), Arno Gleisner, declarou que o setor está preocupado e perplexo. “O impacto direto nas exportações brasileiras para os EUA, se mantidas as tarifas de 50%, será grande. O mercado americano é o maior do mundo, uma grande diversidade de produtos importados. No caso do Brasil, serão afetados produtos como petróleo, café, carne, açúcar, celulose, sucos, frutas, semiacabados de aço, alumínio, aeronaves e peças”.
Gleisner disse também que o projeto Nearshoring, da Cisbra, que está em curso e buscar ampliar negócios com parceiros comerciais próximos, poderia ser prejudicado pela nova taxação. “O projeto prevê um forte incremento das exportações brasileiras para os Estados Unidos”.
O executivo comentou ainda que a busca dos exportadores brasileiros por outros mercados já existe e faz parte da rotina, porém nenhum tem potencial, pelo tamanho e diversidade do mercado americano.
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