Mudança de estado e silêncio: MP detalha reflexo do medo entre testemunhas após morte de jovem em ação da PM em Piracicaba

  • 11/07/2025
(Foto: Reprodução)
Segundo depoimentos de testemunhas, policiais determinaram que imagens fossem apagadas, mandaram um amigo da vítima deixar o bairro e fizeram ameaças constantes. Gabriel Júnior Oliveira Alves da Silva tinha 22 anos Arquivo pessoal/Reprodução OAB Piracicaba Rejeição a prestar depoimento e até mudança de estado. Esses foram alguns dos reflexos do clima de medo entre vítimas e testemunhas da morte de Gabriel Júnior Oliveira Alves da Silva, de 22 anos, durante ação da Polícia Militar, em abril deste ano, em Piracicaba (SP), segundo o Ministério Público (MP-SP). LEIA MAIS: PM afasta 2 policiais e abre inquérito para investigar morte de jovem com tiro na cabeça em Piracicaba Após morte de jovem baleado por PM, ouvidor da polícia cobra câmeras corporais para região de Piracicaba Testemunhas foram ameaçadas e tiveram casas invadidas por PMs presos pela morte de jovem, diz OAB As informações foram detalhadas na denúncia da Promotoria à Justiça contra seis policiais militares por envolvimento no caso, nesta quinta-feira (10). Dois PMs já estão presos e quatro foram afastados. As acusações são de homicídio, tortura, coação, fraude processual e violação de direito de advogado. "Verifica-se que, ao longo de todo o percurso apuratório, vítimas e testemunhas apresentaram-se evidentemente temerosas em prestarem depoimento nos autos, pois os denunciados são policiais militares e, como dito, desde o primeiro momento, seus comportamentos revelaram que que 'trabalhariam' contra a elucidação dos fatos", relata o promotor de Justiça Aluisio Antonio Maciel Neto na denúncia. A Promotoria revelou que teve acesso a imagens, logo após o homicídio de Gabriel, que mostram que um dos PMs passou a vasculhar as imediações do ocorrido em busca de imagens. Uma das testemunhas também relatou a preocupação dos militares com possíveis registros de imagens. "Os policiais militares viram as imagens e disseram que se alguma delas tivesse registrado que era pra apagarmos", relatou. Amigo mudou de estado por medo O mesmo depoente afirmou que "as pessoas possuem medo de falar a respeito do assunto porque isso envolve policiais militares". Ele contou que chegou a pedir para uma das testemunhas relatar o que sabe dos fatos, mas que ela disse que "tem medo e que não quer se envolver”. O morador ainda relatou que policiais militares mandaram um amigo de Gabriel sair do bairro porque ele postava sobre o ocorrido em redes sociais. "Soube que ele foi embora para o Paraná com medo dos policiais militares”, revelou. Outra testemunha fez relato parecido sobre o clima de medo. "As pessoas têm medo de prestar depoimento porque os policiais fazem ameaças constantes em relação ao que ocorreu”, afirmou. Para o Ministério Público, a postura dos PMs envolvidos foi para inviabilizar a investigação. "Dentro de uma investigação criminal, policiais militares não possuem direitos ou prerrogativas diferentes de qualquer cidadão. Todos devem respeito às instituições consolidadas pelo Estado de Direito e que possuem o dever de esclarecer devidamente crimes e fatos ocorridos em suas esferas de atuação. Não há espaço a qualquer retaliação ou revanchismo, típicos de atividades de milícias e que não podem ser admitidos nesta comarca ou em qualquer lugar deste país", traz trecho da denúncia. Vídeos mostram desespero de amigos e esposa de homem morto pela PM em Piracicaba Chamado pelo nome antes de abordagem Segundo a denúncia, por volta das 19h do dia 1º de abril, dois dos PMs denunciados realizavam patrulhamento de rotina no bairro Vila Sônia quando avistaram Gabriel e outro rapaz caminhando pela Rua Cosmorama. Um dos policiais chamou Gabriel pelo nome, perguntou se ele estava "tranquilo", recebeu "sim" como resposta e levou o jovem para baixo de uma árvore, onde passou a agredi-lo, continua a acusação. Os autos apontam que, em seguida, a esposa de Gabriel, que estava grávida, questionou o que estava acontecendo e um PM respondeu que o rapaz seria "folgado". A mulher disse que os policiais é que seriam "folgados" e recebeu um tapa no rosto do policial, que disse "você que é folgada, sua vagabunda", acrescenta a denúncia. As investigações ainda apontam que ela recebeu empurrões e foi arrastada pelos cabelos após arremessar um prato com milho no PM. Gabriel tentava defender esposa, diz MP Ao perceber o que estava acontecendo com a esposa, Gabriel se desvencilhou da abordagem e tentou se aproximar dela. Neste momento, o policial que o abordava apontou a arma para o rapaz e atirou na cabeça dele, a média distância, aponta a acusação. O MP acrescenta que, enquanto Gabriel agonizava, um dos PMs pegou a esposa dele pelos cabelos, disse que ela estava presa e a levou para a viatura, onde disse que “o lixo do seu marido estava morrendo” e que “iria ligar na central para a ambulância demorar a chegar no local”. Ainda conforme a acusação, o outro agente vasculhou o local, recolheu duas pedras, manteve elas dentro da viatura e as apresentou à autoridade policial, alegando que tinham sido arremessadas por Gabriel contra eles. Dois PMs são presos e quatro afastados pela morte de jovem com tiro na cabeça, em Piracicaba Abordagem a presidente de comissão da OAB A denúncia também relata uma abordagem policial ao advogado presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que colaborou com as investigações. Segundo os autos, no dia 10 de abril, após apresentar testemunhas para prestarem depoimento e realizar visita ao bairro onde ocorreu o crime, o carro onde estavam ele e outra pessoa que o acompanhava foi interceptado por viaturas ocupadas por quatro PMs. Ao perceber a possibilidade de ser abordado, o advogado iniciou uma videochamada com uma colega de profissão. Conforme a acusação, um dos policiais dizia "é o advogado, é o advogado" e outro apontou um fuzil para o defensor, pediu para colocar as mãos na cabeça e encostar em um portão. Foi negado pedido dele para que a OAB fosse acionada. A denúncia acrescenta que o advogado teve o carro e mochila revistados e foi questionado pelos PMs sobre o motivo de estar empenhado no caso e se "não tinha entendido o recado", além de receber a determinação de não ir mais àquele local. Liberados, os dois ocupantes do veículo registraram o caso no plantão policial da cidade. PMs investigados pela morte de Gabriel Júnior Oliveira Alves Silva foram presos em 24 de junho, em Piracicaba Edijan Del Santo/EPTV 'Fatos de extrema gravidade' Um dos PMs pode responder por homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e impossibilidade de defesa) e fraude processual. Contra outro agente de segurança a denúncia é por tortura, enquanto para os demais é por coação no curso do processo e violação do direito de advogado. "Conforme se verifica nos autos, os fatos em apuração são de extrema gravidade pois envolvem homicídio qualificado em relação a uma das vítimas, tortura em relação à mulher gestante e ainda coação no curso do processo a envolver advogado que atuava nos autos", avalia o promotor. Segundo ele, houve intenção dos agentes públicos envolvidos, desde o início, de dificultar a investigação em curso, inclusive com alteração da cena do crime. Na denúncia, ele também solicita a decretação da prisão preventiva de dois dos PMs envolvidos. O diz que a Secretaria de Seguraça Pública Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) informou que os dois policiais militares alvo de pedido de prisão preventiva já estão presos e os demais seguem afastados das atividades operacionais. Eque a Corregedoria da PM também apura os fatos e aguarda a manifestação do Poder Judiciário. A SSP não acrescentou que não "compactua com excessos ou desvios de conduta por parte de seus agentes". "Todos os casos de mortes decorrentes de intervenção policial são investigados pelas corregedorias, com acompanhamento do Ministério Público e do Poder Judiciário. Para coibir a letalidade policial, a atual gestão investe na qualificação e modernização das forças de segurança, com foco na formação continuada do efetivo, na atualização dos protocolos operacionais e no uso de tecnologias de menor potencial ofensivo", completou. VÍDEOS: tudo sobre Piracicaba e região Veja mais notícias da região no g1 Piracicaba

FONTE: https://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2025/07/11/mudanca-de-estado-e-silencio-mp-detalha-reflexo-do-medo-entre-testemunhas-apos-morte-de-jovem-em-acao-da-pm-em-piracicaba.ghtml


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