Inspirada pelo Terra da Gente, botânica transforma paixão pela natureza em missão educativa
24/06/2025
(Foto: Reprodução) Com olhar atento ao Cerrado, Carol Ferreira aposta na popularização do saber como caminho para a preservação. A paixão de Carol Ferreira pela natureza se transformou em profissão: ela se formou em biologia e tem doutorado em botânica
Carol Ferreira
Desde pequena, Carol Ferreira já dava sinais de que a natureza guiaria seu caminho. Ainda criança, ela se encantava com as plantas no quintal da avó e passava horas analisando raízes, plantando árvores frutíferas e descobrindo pequenas maravilhas no gramado.
“Na filmagem do meu aniversário de cinco anos eu paro de brincar com meus primos e amigos para sair correndo e mostrar uma pinha que havia encontrado, como se aquilo fosse a coisa mais espetacular do mundo”, lembra.
A paixão se transformou em profissão: Carol se formou em biologia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), fez mestrado na mesma área e doutorado em botânica na USP de Ribeirão Preto. Mas sua trajetória vai além da sala de aula e dos laboratórios.
Udu-de-coroa-azul (Momotus momota)
Carol Ferreira
Entre as primeiras inspirações de Carol, está o programa Terra da Gente, da EPTV. Ainda criança, ela folheava as páginas da revista do programa com os pais. As crônicas do jornalista e apresentador Ciro Porto e as reportagens acessíveis ajudaram a moldar a forma como ela se comunica com o público hoje.
“As reportagens e crônicas do Ciro me inspiraram tanto com a profissão como também com essa maneira de se falar sobre o mundo das plantas e dos animais de forma compreensível e acessível”.
Hoje, anos depois, Carol colabora com o Terra da Gente com a mesma paixão que a fez se encantar pelo programa no passado – desta vez, como fonte especializada em matérias voltadas à flora, especialmente as espécies do Cerrado.
Da botânica à fotografia de aves
A transição das plantas para as aves veio naturalmente. Durante o mestrado, Carol estudava plantas polinizadas por beija-flores – e foi justamente ali, no Cerrado, que ela começou a se encantar com o mundo alado.
Durante o mestrado, Carol estudava plantas polinizadas por beija-flores – e foi justamente ali, no Cerrado, que ela começou a se encantar com o mundo alado
Carol Ferreira
“Lembro da emoção que senti a primeira vez que vi um beija-flor bico-reto-de-banda-branca visitando uma flor de cana-de-macaco, também chamada de cana-do-brejo. As cores dele ‘acesas’ pelo sol me impactaram de uma maneira que até hoje fico emocionada quando o fotografo”.
A fotografia, inicialmente voltada para insetos, passou a registrar também a vida das aves que ela observava nas viagens de campo. Sua primeira câmera veio de uma viagem aos Estados Unidos, onde fotografou um cardeal-do-norte (Cardinalis cardinalis). Desde então, sua lente nunca mais parou.
Durante viagem para os Estados Unidos, Carol registrou o cardeal-do-norte (Cardinalis cardinalis), espécie encontrada na América do Norte
Carol Ferreira
Um novo começo em Goiás
Em 2019, Carol se mudou para Rio Verde, em Goiás, acompanhando o noivo. A mudança coincidiu com um momento desafiador: a pandemia. Durante o isolamento, retomou a escrita do doutorado, começou a trabalhar em uma escola de idiomas, mas não se afastou da biologia.
Foi um martim-pescador que, em 2019, a fez resgatar a câmera que estava guardada há anos
Carol Ferreira
Foi um martim-pescador que, em 2019, a fez resgatar a câmera que estava guardada há anos. “Ali começaram os registros das araras-canindés, dos pica-paus e de tantas aves incríveis do campus do Instituto Federal Goiano”.
A observação de aves se intensificou, assim como o envolvimento com ações de divulgação científica. Carol passou a participar de projetos, palestras e eventos, como o Avistar, com o desejo de levar o conhecimento para além da universidade.
As araras-canindés são os destaques do campus do Instituto Federal Goiano
Carol Ferreira
Um projeto para o futuro
Inspirada pelo impacto da educação ambiental, Carol já tem um novo plano: fazer um mestrado em Educação, com foco em divulgação científica nas escolas de Rio Verde.
“Ver as crianças com o olhar voltado para a natureza mostra que precisamos ir além dos muros da universidade. O conhecimento produzido nas pesquisas precisa chegar à população, desmistificar conceitos, romper barreiras e se transformar em algo acessível. É preciso que a ciência saia do papel e ganhe vida no cotidiano das pessoas”.
Carol flagrou um lobo-guará no Parque Nacional das Emas
Carol Ferreira
Para ela, despertar o interesse pela botânica é essencial para a conservação. E isso envolve combater o que chama de “impercepção botânica” – a dificuldade das pessoas em reconhecer a importância das plantas no cotidiano.
“As plantas não chamam tanto a atenção quanto uma onça ou uma ave colorida, mas são fundamentais. Produzem oxigênio, alimento, habitat. Por isso precisamos tirar um pouco o olhar das telas e voltar os olhos ao nosso redor”.
Carol registrou a araponga no Sítio Macuquinho, em Salesópolis
Carol Ferreira
Sonhos e descobertas
Entre as memórias mais marcantes da carreira, Carol destaca a descrição de uma nova espécie vegetal: Conchocarpus hendrixii, nome inspirado em Jimi Hendrix, por conta da coloração púrpura das flores – a única dentro do gênero.
Entre as memórias mais marcantes da carreira, Carol destaca a descrição de uma nova espécie vegetal: Conchocarpus hendrixii, nome inspirado em Jimi Hendrix, por conta da coloração púrpura das flores
Carol Ferreira
E ainda há sonhos a realizar. O maior deles: conhecer a Amazônia. “Fico encantada com as aves que ocorrem por lá, sem contar com as plantas. É um desejo que ainda pretendo realizar”.
Enquanto isso, ela segue atrás de um clique especial: a maria-leque-do-sudeste e o beija-flor gravatinha. E como tudo em sua vida, a busca é feita com delicadeza, paciência e profundo respeito por cada forma de vida que encontra pelo caminho.
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