Empresa citada em inquérito sobre patrocínio do Corinthians é investigada por elo com PCC e lavagem de dinheiro no futebol português

  • 09/07/2025
(Foto: Reprodução)
Federação apura se crime organizado financiou time da terceira divisão e se negociou compra e venda de jogadores de forma ilícita; clube nega acusações e vínculos com a assessoria esportiva UJ Football Talent. A empresa também refutou qualquer ilegalidade. A empresa de agenciamento UJ Football Talent recebeu mais de R$ 800 mil do Corinthians. TV Globo/Reprodução A assessoria esportiva UJ Football Talent, citada pela Polícia Civil de São Paulo como empresa destinatária de parte da verba de patrocínio desviada de um contrato entre a Vai de Bet e o Corinthians, também é investigada em Portugal por suspeita de lavagem de dinheiro e ligação com a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) em negociações com um clube de futebol. A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) apura se o PCC financiou o time Associação Desportiva de Fafe, atualmente na terceira divisão do futebol português, e se negociou compra e venda de jogadores de forma ilícita por meio da UJ Football. A investigação da FPF foi aberta após reportagem do jornal português O Público, no fim de 2024, e ainda está em andamento. A denúncia indicou que os empresários brasileiros vinculados ao PCC já estariam atuando no Fafe, apesar de ainda não terem oficialmente entrado no capital da sociedade de futebol, e que transferências de jogadores também teriam sido usadas pelo PCC para lavar dinheiro. O clube alega que não tem vínculos com a UJ Football, nem seus acionistas, que o sócio da assessoria esportiva Ulisses Jorge desistiu do negócio por motivos pessoais e que soube da existência de uma investigação da FPF pela imprensa. A UJ também refutou qualquer ilegalidade e defendeu que a empresa possui anos no ramo de agenciamento de jogadores de futebol, sempre pautando sua conduta por ética, correção e idoneidade (leia mais abaixo). Como relevado pelo g1 e pela GloboNews, Portugal é o quinto país com o maior número de integrantes do PCC – dentro e fora dos presídios, e o principal da Europa. Os investigadores alertam que traficantes têm buscado outros países não só para viagens temporárias para negociar armas e drogas, mas também como moradia fixa e infiltração em cadeias, uma espécie de "marca registrada" da facção. O pesquisador Roberto Uchoa, da Universidade de Coimbra e conselheiro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, confirma que o PCC tem buscado diversificação de atuação no tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, com a abertura de empresas, aquisição de imóveis e infiltração no mercado do futebol. "Houve, por exemplo, tentativa de aquisição de clubes de futebol da terceira divisão da Liga portuguesa e isso foi sinalizado como uma tentativa da organização de fazer a lavagem de dinheiro que ganha no tráfico internacional de cocaína, principalmente. A questão da lavagem de dinheiro é uma preocupação no sistema bancário como um todo em Portugal, com a chegada das organizações criminosas de fora da Europa que tentam adquirir propriedades e entram no sistema da economia formal, como no mercado de transferência de jogadores de clubes de futebol", detalha o pesquisador. Relatório da Polícia aponta que parte do dinheiro do patrocínio da Vai de Bet ao Corinthians foi parar em uma conta ligada ao PCC O procurador nacional Antimáfia e Antiterrorismo da Itália, Giovanni Melillo, confirmou que as autoridades europeias já mapeiam a atuação de organizações criminosas brasileiras e estrangeiras no futebol, principalmente em divisões de acesso, e que os investigadores italianos criaram um setor para acompanhar o que ele chamou de "organização complexa entre o crime organizado e o futebol". "É um fenômeno que percebemos no futebol do ponto de vista regional, mais local. É um fenômeno ainda subvalorizado [pelas autoridades]", respondeu Melillo ao ser questionado em um painel durante um evento sobre combate ao crime organizado na Universidade de São Paulo (USP), no fim de junho deste ano. Ligação do futebol com o PCC Vai de bet fechou patrocínio master com o Corinthians em janeiro de 2024, mas contrato foi rescindido. Reprodução/SCCP A UJ Football aparece no relatório final da Polícia Civil de São Paulo como uma das empresas beneficiadas com o desvio de pelo menos R$ 1,4 milhão após a assinatura de um contrato de patrocínio assinado entre o Corinthians e a Vai de Bet, no valor total de R$ 360 milhões. Para a Polícia Civil de São Paulo, a UJ Football tem ligação direta com o empresário Danilo Lima de Oliveira, conhecido como Danilo Tripa. Os investigadores afirmam que Tripa é sócio oculto da empresa, apesar de não aparecer no quadro societário da agência; Entre os elementos de prova apresentados pela polícia está a participação de Danilo na contratação do lateral-direito Emerson Royal pelo Barcelona, na Espanha, em 2021. O empresário aparece em uma foto ao lado do jogador e de Ulisses Jorge, sócio formal da UJ Football. À época, ambos foram apresentados para a imprensa como agentes de futebol e mantinham escritório em Portugal. "Conforme visto nas matérias jornalísticas alhures mencionadas, os negócios da UJ transpassaram as fronteiras nacionais e chegaram ao território europeu, sendo certo que alguns países – com especial destaque para Portugal – passaram a monitorar o provável envolvimento da empresa com a criminalidade organizada transnacional, a ponto de reconhecer, em virtude disso, a provável atuação do Primeiro Comando da Capital (PCC) em solo português", detalhou o delegado Tiago Correia. O relatório da Polícia Civil também cita outros integrantes do PCC que atuam como "braço financeiro" da facção e que se instalaram na Europa, e movimentações bancárias suspeitas feitas pela UJ Football a partir de contas geolocalizadas em Portugal e na Espanha. "Nada há de ilícito no manuseio da conta bancária estando o respectivo operador no estrangeiro, mas a utilização a partir de Portugal e da Espanha reforça a presença da UJ Football em terras europeias", relatou o delegado. Sequestro de delator do PCC A ligação de Danilo Tripa com o crime organizado veio a público em 2022, quando a Justiça paulista decretou a prisão temporária do empresário. Tripa foi investigado pela participação no suposto sequestro de Antônio Vinicius Gritzbach, que futuramente fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e ficou conhecido como "delator do PCC". Os bandidos acusavam Gritzbach de mandar matar o traficante do PCC Anselmo "Cara Preta", em 2021, para roubar R$ 30 milhões em criptomoedas. "Esses narcotraficantes lavam dinheiro com o agenciamento de jogadores de futebol, obviamente esses jogadores não têm ciência disso", afirmou o promotor Juliano Atoji, ao Fantástico. Consta nos termos da colaboração que Gritzbach afirmou aos promotores que Tripa era "empresário de diversos jogadores de futebol, alguns alocados na UJ Football, empresa sem lastro financeiro, que se enquadra no Simples e possui vários jogadores. Danilo não figura como sócio desta empresa, mas possui participação". Ainda em depoimento ao MP durante as negociações do acordo, Gritizbach afirmou que Tripa, quando participou de seu sequestro, exigiu que ele ligasse para a família para se despedir e que ameaçou esquartejá-lo. Gritzbach relevou também que um delegado da Polícia Civil recebeu R$ 5 milhões para não prender Tripa e outro importante integrante da facção. Antônio Vinicius Gritzbach foi executado no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos (SP), no começo de novembro do ano passado. Ele delatou o envolvimento de integrantes do PCC com lavagem de dinheiro e com policiais civis e militares. A UJ Football foi procurada e afirmou, por meio de seus advogados, que Danilo Lima não possui qualquer vínculo societário, contratual, funcional ou informal com a empresa, e que a única ocasião em que houve algum relacionamento foi quando da apresentação, cuja defesa chamou de informal, do atleta Emerson Royal. "Não houve, em nenhum momento, sociedade, parceria comercial ou envolvimento em processos de gestão ou operação da UJ Football Talent por parte dele", diz a nota, cujo teor completo está abaixo. Já o empresário Danilo Lima de Oliveira afirmou, também em nota, que não possui qualquer envolvimento com os fatos sob investigação e que não figura como parte no processo mencionado, "não tendo conhecimento dos elementos que compõem o referido caso" (nota na íntegra abaixo). O empresário afirmou que está à disposição das autoridades para qualquer esclarecimento. Desvios em contrato do Corinthians O presidente afastado do Corinthians, Augusto Melo, ganhou as páginas policiais nos últimos dias após o indiciamento pelos crimes de lavagem de dinheiro, associação criminosa e furto. A Polícia Civil encontrou irregularidades no contrato entre o clube e a casa de apostas VaideBet, além de descobrir o envolvimento com o PCC. Corinthians e os dirigentes negam as denúncias. Além do presidente do clube, foram indiciados o ex-diretor administrativo do clube, Marcelo Mariano; o antigo superintendente de marketing corintiano, Sérgio Moura; e Alex Cassundé, dono da empresa responsável pela intermediação do contrato com a VaideBet. O contrato foi assinado em dezembro de 2023, e previa o pagamento de R$ 360 milhões em três anos — o maior patrocínio máster da história do futebol brasileiro até aquele momento. A partir do inquérito policial com os indiciamentos, o Ministério Público pode oferecer a denúncia, que será analisada por um juiz. Se a Justiça receber a denúncia, eles vão se tornar réus em processo penal. A polícia destacou ainda que identificou diversas empresas de fachada, muitas das quais vinculadas ao PCC, e que esses fatos serão objeto de investigações separadas. O que diz a UJ Football Talent "A empresa UJ Footbal Talent, por seus advogados, esclarece que jamais tiveram qualquer relação, pessoal ou comercial, com o então presidente do Sport Club Corinthians Paulista, Augusto Melo, e ou com os diretores envolvidos na investigação levada a efeito pela Polícia Civil de São Paulo – e por este motivo, jamais realizaram doações ou contribuições financeiras para a campanha eleitoral do mencionado dirigente. E, enfatiza-se que nunca se beneficiaram de recursos desviados dessa ou qualquer entidade desportiva. O senhor Danilo Lima não possui qualquer vínculo societário, contratual, funcional ou informal com a empresa. A única ocasião em que houve algum relacionamento foi quando da apresentação informal do atleta Emerson Royal. Não houve, em nenhum momento, sociedade, parceria comercial ou envolvimento em processos de gestão ou operação da UJ Football Talent por parte dele. Salientando-se que a empresa possui anos no ramo de agenciamento de jogadores de futebol, sempre pautando sua conduta por ética, correção e idoneidade. Por fim, quanto aos valores recebidos pela UJ, depositados pela empresa Wave, esclareça-se que estes foram oriundos de negócios lícitos, realizados com terceiros, devidamente tributados e declarados às autoridades competentes, sem qualquer relação com o Sport Club Corinthians Paulista." O que diz o clube Ad Fafe "A AD Fafe SAD e seus acionistas não têm vínculos com o Agente Fifa Ulisses Jorge ou com a empresa UJ Football Talent e só têm conhecimento da existência de uma investigação da FPF pela mídia. A AD Fafe SAD tem tido conhecimento de notícias que têm saído nos órgãos de comunicação social brasileiros e portugueses respeitantes a eventuais ligações do agente Fifa Ulisses Jorge com crime organizado no Brasil. No entanto, como mencionado, a UJ Footblall Talent e/ou o agente Fifa Ulisses Jorge não são acionistas diretos ou indiretos da AD Fafe SAD nem têm qualquer ligação com a sociedade anônima esportiva AD Fafe SAD. O que a AD Fafe SAD tem conhecimento é que: A UJ Football Talent, através do seu presidente Ulisses Jorge, estava interessada em adquirir 75 % do capital da AD Fafe SAD que era detido pelas sociedades Felmargest, SGPS, SA e Rómulo, SGPS, SA e estavam a negociar com essas sociedades. Contudo, o presidente da UJ Footblall Talent Ulisses Jorge, por motivos pessoais, perdeu o interesse no projeto do AD Fafe SAD, tendo cedido a sua posição contratual no contrato promessa de compra e venda de ações da AD Fafe SAD que tinha celebrado com as ex-acionistas da AD Fafe SAD, Felmargeste SGPS SA e Rómulo SGPS SA ao atual Presidente Vanderlei Fernandes Silva, que entendeu investir o seu capital que acumulou enquanto foi jogador de futebol profissional na aquisição de 75% da Fafe SAD (que eram detidos pelas empresas Felmargest e Rómulo, anteriores acionistas da AD Fafe SAD); Em 29.11.2024 foi celebrado o contrato de compra e venda de ações e créditos entre as empresas Felmargest SGPS SA e Rómulo SGPS SA e o atual Presidente da AD Fafe SAD Valderlei Fernandes da Silva, referente a 75% do capital social da AD Fafe SAD. Repete-se a AD Fafe SAD e o Presidente e acionista Vanderlei Fernandes Silva não têm qualquer relação com a empresa UJ Footeball Talent Intermediação LTDA. O Presidente da AD Fafe SAD não é e nunca foi seu sócio administrador ou procurador, nem tem qualquer relação profissional com o empresário Ulisses Jorge. A AD Fafe SAD ou seu Presidente e acionista Vanderlei Fernandes Silva não conhecem e nunca tiveram qualquer contato com o Senhor Danilo Lima de Oliveira ou Danilo Tripa que só ouviram falar pela mídia." O que diz o empresário Danilo Lima de Oliveira "A Lion Soccer Sports Representações Esportivas Ltda vem a público esclarecer que o empresário Danilo Lima de Oliveira, seu sócio administrador, não possui qualquer envolvimento com os fatos sob investigação, tampouco figura como parte no processo mencionado, não tendo conhecimento dos elementos que compõem o referido caso. Por fim, Danilo Lima permanece à disposição das autoridades competentes para quaisquer esclarecimentos que se fizerem necessários, com absoluta transparência e confiança na Justiça." O circuito de empresas por onde passou dinheiro do contrato de patrocínio do Corinthians

FONTE: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2025/07/09/empresa-citada-em-inquerito-sobre-patrocinio-do-corinthians-e-investigada-por-elo-com-pcc-e-lavagem-de-dinheiro-no-futebol-portugues.ghtml


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