Condenados por fraude em contratação para Saúde em Brodowski, SP, trocavam ameaças sobre valores desviados
18/07/2025
(Foto: Reprodução) Empresário 'comprava' ex-funcionários da prefeitura de Brodowski, SP
Mensagens interceptadas pela polícia revelam que o esquema de fraude em contratos da saúde de Brodowski (SP), que levou à condenação de um ex-secretário, uma ex-servidora e um empresário, era marcado por ameaças diretas entre os próprios envolvidos.
As provas, obtidas na Operação Raio X, deflagrada em agosto de 2023, mostram que a divisão dos valores desviados gerava conflitos e tensão entre os condenados Luiz Henrique Tahan, Maria Helena Rossanese e Carlos Eduardo Bosa.
Os réus participaram de um esquema que superfaturou contratos e desviou recursos públicos, com pagamento de propina. Tudo isso, ao contratarem uma empresa para instalação de equipamentos elétricos e para-raios na Unidade Mista Hospitalar da cidade, conhecida como Hospitalzinho.
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Na transcrição de um áudio enviado para Carlos Eduardo Bosa, Luiz Henrique dá a entender que 'a paciência está acabando'.
"Bosa, até agora tivemos paciência com você, foi tudo muito bem… A gente quer receber. Então você se organiza, dá um retorno hoje em relação ao pagamento… O que é teu é teu, o que é nosso é nosso. Senão, você não sabe o que pode acontecer. Vamos baixar na tua casa e o negócio vai ficar louco."
Em outra mensagem, Maria Helena também ameaça Bosa.
"Eduardo, tenho R$ 500 em a ver com você e queria receber. Queria não, quero. Eu preciso como todo mundo precisa, depois o Luís te manda outra mensagem porque aí é negócio dele."
Os envolvidos foram condenados pelos crimes de associação criminosa, peculato e frustrar processo licitatório. Veja abaixo cada uma das penas:
Luiz Henrique Modena Tahan (ex-secretário adjunto de licitação): condenado a 7 anos e 8 meses de reclusão
Maria Helena de Faria Rossanese (ex-servidora administrativa da Secretaria de Saúde): condenada a 7 anos de reclusão
Carlos Eduardo Bóssa (empresário contratado): condenado a 7 anos de reclusão
Todos eles também foram condenados ao pagamento de multa e ressarcimento ao erário. Os valores não foram divulgados.
Luiz Henrique Modena Tahan, Maria Helena de Faria Rossanese e Carlos Eduardo Bóssa foram condenados por fraude em contratação para Saúde em Brodowski, SP
Arquivo pessoal
Esquema fraudulento
A investigação demonstrou que a empresa de Carlos Eduardo, PH Instalações Elétricas e Segurança Eletrônica, foi usada pelo grupo para fraudar ao menos oito contratos firmados com a Prefeitura, dispensando licitações.
Maria Helena é apontada como a responsável por articular o esquema, e Luís Henrique Tahan agiria elaborando os contratos que seriam fraudados.
Na prática, Carlos Eduardo Bosa oferecia orçamentos com preços falsificados, realizava os serviços e, após receber da Prefeitura, repassava parte dos valores para os outros integrantes do grupo.
No contrato do para-raios, por exemplo, compra e instalação do equipamento foram acordadas por quase R$ 50 mil. Desse total, segundo o Ministério Público, quase R$ 25 mil foram para os bolsos de Carlos Eduardo, Luiz Henrique e Maria Helena.
Durante a Operação Raio X, a polícia realizou apreensões de documentos, celulares e outros aparelhos eletrônicos. Na perícia nesses celulares, foi possível encontrar mensagens que serviram como provas para as condenações, por contarem com o acerto de pagamento de propina e os locais onde isso deveria acontecer.
As quantias eram repassadas em cheques, dinheiro vivo e até transferência bancária. Mensagens interceptadas pela polícia mostram que o grupo combinava de se encontrar em locais públicos para o pagamento das propinas.
Em uma mensagem enviada em fevereiro de 2023, Luís Henrique pedia aos envolvidos 'cuidado pra ninguém ver você me dando o valor'. A resposta foi que o dinheiro seria colocado em um envelope.
Prefeitura de Brodowski
Reprodução EPTV
O que dizem os envolvidos?
Em nota, a Prefeitura de Brodowski ressaltou que nenhum dos condenados mantém qualquer vínculo com a administração atual. Além disso, afirmou que está comprometida com a legalidade, transparência e responsabilidade na gestão dos recursos públicos, e repudiou práticas de corrupção.
"A Prefeitura de Brodowski reconhece a importância do trabalho das autoridades policiais e do Poder Judiciário na apuração e responsabilização dos atos praticados, sobretudo diante dos prejuízos causados ao erário".
A defesa de Carlos Eduardo disse que haverá interposição de recursos de apelação e que o cliente prestou serviços da forma em que foi contratado pela municipalidade, sem provas de superfaturamento. Com isso, segundo ela, não há base para ser mantida a condenação.
Garantiu, ainda, que Carlos não está vinculado a nenhum dos outros réus, pois apenas fornecia a documentação conforme era pedido a ele, para participar da licitação, e que todo o serviço contratado foi realizado.
A defesa de Maria Helena, por sua vez, citou que também protocolou um recurso de apelação e que acredita nas instâncias superiores para absolver a cliente da "injusta condenação, restabelecendo a justiça".
Já Luiz Henrique afirmou que ele próprio está fazendo a defesa e recorrendo da condenação. De acordo com o ex-secretário, não tem nada assinado por ele e que todo esse processo foi um erro.
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